Os antigos nomes do Nome ELOHIM
PRIMEIROS REGISTROS
ENCONTRAMOS OS PRIMEIROS REGISTROS SOBRE O NOME DIVINO no livro do GENESIS em hebraico: EL, o mais antigo Nome semita; sua raiz talvez signifique Forte cf. abaixo. [Escrita: Alef+Lamed]. Surge em nomes compostos antigos, nomes de lugar ou pessoa: Betel, Israel, Daniel…
RADICAIS – SHED/ ELAHA
COM O passar do tempo, temos EL Ohim, Pleno em Poder depois contracto como Elahim; hoje, Elohim [Alef+Lamed+Hei+Yud+Mem]. E encontramos EL-Shaddai [Alef+Lamed=EL. Shin+Daleth+Yud=Shadai]. Shadai deforma-se nos radicais caldaicos She=existir+Di[dai]=divindade, ser espiritual.
EU SOU
ELOHIM apresenta-se a Moshe como «Eu Sou O Que Sou» Ehieh asher ehieh cf. Shemot/Ex 3:14: ‘existo por mim mesmo’.
Y-H-W-H era lido Yahweh (=o ser) em torno de 586 a.E.C., o que se confirma ao menos pelo nome abreviado YAH [Yahu], forma poética, cf. Ex 15,2, que finaliza muitos nomes hebreus: Elias, Jeremias, Obadias, Zacarias…
EHIEH ASHER EHIEH
COMO outros verbos hebreus, Yahweh abrevia um nome original maior, que poderia ser Yahweh-Asher-Yahweh: “ele faz existir tudo o que existe”. Yahveh significaria devir; vir-a-ser; sou, fui e serei [IEVE=Yud+Hei+Vav+Hei]. Correlato de Ehieh asher ehieh, eu Sou Quem Sou, o Nome dado pela Escritura cf. acima.
EM JEHOVAH temos um Qeri=”como-ler”: um erro intencional para corrigir ou proteger um verbo hebraico valioso. Consiste em aplicar as vogais de Adonai=meu senhor, sobre o verbo YHVH; resulta na leitura Yahovah. Outra forma, muito rara, Yhova, usada em poesia, pode ser mais que variedade do Qeri Iehovah.
ELOHIM e outros nomes divinos
A DIVINDADE conhece-se entre os judeus por muitos nomes a iniciar por Ain soph, o ilimitado. Adonai, o senhor. YHWH ou Ehieh=Eu Sou cf. Shemot/Ex 3,20: eu sou quem sou. Mas em cada uma das Safiras temos outro Nome, assim como outros 99, referidos pela Cabala. Tais Nomes refletem o longo percurso israelita; no sentido primitivo, antes de Abraão, ‘elohim era simplesmente deus[es], divindade[s].
NO PRIMEIRO trecho do Gênesis, Elohim aparece 35 vezes, em 34 versos (Gen 1,1-2,4). Elohim expressa o concepto transcendente, sublime e majestoso de um Eterno D-us que precisa apenas falar para o mundo existir: Va-iomer Elohim iehi or va-iehi or: “e D-us disse, haja luz! E houve luz’ (Gen/Ber 1,3)” liter. ‘Elohim disse seja luz e seja luz’.
Os Setenta designaram o D/us de Israel pelos termos Theos ou Kyrios. […] Traduzindo assim, afirmavam o objetivo de introduzir a Escritura no helenismo, de adaptar os nomes e conceitos da Bíblia &a grave; cultura grega. Com isso, […] os leitores da Escritura nos idiomas ocidentais chamam o Elohim de Israel pelos nomes que seus ancestrais davam aos ídolos […] parece preferível chamar o Elohim de Israel por Seus Nomes.
(Chouraqui).
A PESQUISA historial revela, ao menos 2 autores se revezam no texto mosaico; o mais recente, o Elohista, sempre chama O ETERNO pelo nome de Elohim=’os poderes’. Corresponde ao arameu ‘elaha, ao árabe ‘allah.
ELOHIM foi traduzido em grego, nos Setenta (ano 282 a.E.C.), pelo verbo theos, deus=ídolo, para evitar a pecha de ateus(!) ante os ocidentais. Mas, ’elohim significa Os poderes do Criador, da Natureza, eterno foco de pensamento-luz gerador que subjaz ao cosmos. EL Ohim E’ a lei natural, cf. abaixo. EL Ohim concede a Lei e sobretudo fala; diz para o homem existir, “E disse Elohim” depois o forma, “Vamos fazer o homem da nossa imagem”. Ao longo da Escritura, apresenta as leis. Traduzido por Imagem [theos], significa o Para Si, as habilidades perceptivas, o Conhecimento, enfim.
O Alef inicial de ’elohim, uma letra com duas pontas verticais, acima e abaixo, em Cabala se associa ao ser humano. < I>[Alef, uma letra muda, um hiato na voz, expressa o silêncio meditativo]. Depois temos Lamed=L, um desenho sinuoso que volta acima e flutua sobre a linha das letras; depois He=H, que simboliza o ideograma de ‘fortaleza’, duas pontas firmemente voltadas ao solo; o Iod=Y=I longo ii, a letra inicial de YHWH, associada em Cabala ao ato criador; o Mem final, M, representa Maym, os mares primordiais; ’elohim se escreve >-L-H-I-M.
ASSIM temos um paradoxo gramatical: o D-us Uno chamado por um nome no plural com ou sem o artigo ha: ha-elohim, ou elohim. Outro paradoxo- o verbo no singular com um sujeito no plural. Os rabis ligam este Nome ao ideal de Lei Escrita, de rigor, ao conceito de leis fundamentais da natureza: Hateva.
EL
ESTE nome divino vem do idioma comum aos povos semitas. A forma verdadeira é com Alef, ‘el. Surge como sufixo em muitos nomes, cf. Isra’el. Significado ainda controvertido, talvez=forte. Os eruditos dizem que vem da mesma raiz que Elon, carvalho, uma árvore excepcionalmente forte. Em muitos inscriptos, EL=forte, protetor, voluntarioso, abrigo dos fracos.
OS ERUDITOS ainda discutem se EL era o nome geral do panteon semita, ou se o nome de uma divindade particular. Alguns inscriptos fazem supor que designava o deus da misericórdia. A principal divindade cananeia tinha este nome, EL. Tal nome acha-se em numerosos registos cananeus, arameus, e no sul da Arábia. Em Ugarit, EL era o Ancião dos Dias; figurava a sabedoria e a experiência; oposto a Ba’al, o herói jovem que supera os desafios (Arquétipos iunguianos: O Velho Sábio e O Mito do Herói).
Os caldeus e assírios usavam a forma acadiana YLU, com o mes mo sentido. EL se usa para toda divindade celeste, e na Torah em especial para Elohim.
ELOHA
ALGUNS eruditos pensam em que o nome Eloha seja o singular de Elohim; para outros, a origem pode ser diferente; Eloha seria o nome individual do Elohim [deus protetor] de Israel. Melhor, Eloha seria o EL Ohim de Israel.
ALGUNS registos parecem sugerir que Eloha=Aquele Que Faz Tremer As Criaturas ou Aquele Que Protege Contra Todo Medo. Eloha expressa em geral as divindades dos povos vizinhos de Israel (Hab 1,11; Dn 11,38). Poderia igualmente designar a estátua de um ídolo, cf. Jó (Jb 12,6). Talvez fosse assim no tempo dos LXX, talvez Elohim fosse lido como plural de Eloha, por isto traduziram Eloha-elohim=Imagem=deus com base no sentido hebraico deste conceito em seu tempo, e não apenas com base no significado grego de theos.
ADON – ADONAI
EIS O nome divino mais comum. Adon (sing.) e Adonai (plural) se traduzem como ‘poderoso'[s]. Os LXX traduziram como ‘kyrios’ e a Vulgata como ‘senhor’.
Kyrios=kurios=kirios significa O Que Emite A Palavra: aquele que tocava o Shofar (a trombeta sagrada) no acume do Templo, que marcava a vesperal das festas; o Shofar era feito de chifre de carneiro, gr. keras, por isso, gr. kyrios significa ‘forte’ e na liturgia judaica designava o ‘pregador’, o Hazzan, o cantor, encarregado de ler (cantar) a Torah na sinagoga. Existe uma semelhança sonora: gr. keras=chifre X heb. Qera=cantar.
TEMOS o grego kerigma. Traduz o hebraico Bessorah=pregão (cantoria); pregar (cantar): deriva de keras; correlato de kyrios (keras-kirios-kerigma). Bessorah era “anunciar os dias de festa” no cume mais alto do monte Moria onde estava o Templo.
O HAZZAN era honrado em especial, chamado de O Mais Velho [o mais honrado]; em latim, senior=senhor [senis=velho].
Adonai
Adon, Adonai. “E’ assim que o homem da Bíblia evoca, o mais das vezes, seu Elohims (Gen 15,2;20,4…). Adonai é um plural gramatical como Elohims, com o qual se combina reiteradamente em Adonai-Elohim” (Chouraqui). Adonai é um vocativo.
YHWH
OS NOMES divinos mais antigos, em inscriptos semitas no Meio-Oriente, revelam conceitos peculiares das Sefirot mais tardias; refletem um processo historial de progressiva aceitação do monoteísmo entre os nômades; alguns indicam um resto de antigo politeísmo (anterior aos tempos bíblicos).
D-us para os antigos nômades Hapiru, dos quais descendem os hebreus, era um poder criador universal, impessoal, nunca um ídolo. Este concepto abstrato e uno da divindade, transmitido de pai a filho, num tempo tão arcaico, decerto impressiona. O Nome YHVH personaliza o Elohim de Israel [Chouraqui]. A ‘inscrição’ mais representativa de seu registo é a Escritura, onde surge 6.823 vezes.
6+8+2+3=19… 1+9=10. Nos algarismos antigos, uma letra representa 6 mil, outra, 800 e assim por diante, sem o critério de posição (casa decimal: m-c-d-u). Se fosse hoje como antes, os algarismos seriam 6000800203, [6. 823] p.ex., A=1/ J=10, logo, JA=11.
YHWH apresenta-se na Torah com caracteres eminentemente masculinos; a Cabala diz ser este o Espelho Obscuro do Nome. D-us não pode ser definido, a Torah retrata o que D-us não é, e não aquilo que E’. Nomes abstratos ou de forças naturais, terminados em -h são em geral femininos, ou, YHWH pode ter talvez o significado antigo de D-us/D-usa. Antes, havia YHWH Asereth (YHWH feminina) adorado[a] em altares israelitas, no tempo dos Patriarcas.
YAH
ESTE nome foi considerado um diminutivo de YHWH. Alguns pensam, ao oposto, ser o nome original do Elohim de Israel. Surge apenas em poesia.
NA FORMA Yah hu = ser sendo [ele E’-foi-será!] é um Nigun ou melodia de meditação, uma cantiga sem palavras, um mantran. Ainda hoje os beduínos se dispõem ao redor do fogo e cantam incessantemente, Yahu Eya Allah!
YAH finaliza a maior parte dos nomes judaicos antigos de pessoas, na forma Yah ou Yahu: Elyahu, Ieshayahu, Avdyah, Netanyahu cf. acima.
A MAIORIA dos nomes judaicos das pessoas, desde tempos imemoriais, era frases ou pequenos salmos de louvor e finaliza com os sufixos -yah ou -el, outro nome divino, EL.
PROVAVELMENTE Yah – Yahu foi um nome bastante arcaico. Pode ser a primitiva pronúncia de YHVH. Na Cabala, Yah se relaciona à meditação.
TSEBATOTH
TAL NOME acha-se nos Profetas. Acha-se ainda nos Salmos, como atributo de algum outro nome divino. Temos YHWH Elohim Tsebaoth, ou YHW H Tsebaoth, ou Elohe Tsebaoth.
A tradução é D-US DOS EXERCITOS: dos astros, dos ‘anjos’, das criaturas, ou das milícias: D-us em guerra. Na Cabala, significaria os Atributos, Sefirot, tomados em conjunto.
EL SHADAI
QUASE sempre associado a promessas de fecundidade. Origem, o verbo She dai=o que se basta a si mesmo; talvez, a raiz Shadad=imenso na força. Quase sempre surge na frase EL Shadai.
SHADAD igualmente pode significar ‘destruir’. El Shadai: D-us nas altas montanhas, dos trovões e raios, dos seios fecundos. Naquele tempo remoto o empenho dos rabis era de oferecer imagens concretas do D-us Uno, mesmo que para isso tomando conceitos do politeísmo, como se confrontassem ‘experimentalmente’ os dois sistemas, até que Israel se convencesse da unidade divina.
O JUDAISMO apelava à razão, não à fé. O equivalente hebraico de “crer”, Emunah, significa ‘Verdade’. O monoteísmo era tido como superstição e atraso (superstitio). Mesmo em Israel, houve entusiasmo com o ‘avançado’ (?) politeísmo dos outros povos; os rabis deviam provar o que diziam, deviam elaborar imagens racionais eficientes, a partir da Torah, para fazer o povo compreender o monoteísmo, cf. acima, “introduzir a Escritura no mundo grego”: a leitura narrativa dos Nomes veio do grego, dos Setenta (LXX); disseminou-se; o texto hebraico passou a ser lido de modo narrativo (mas oferece muitas outras possibilidades de leitura). O texto grego se impôs; o hebraico era tido como um idioma bárbaro, primitivo, atrasado, condenado a desaparecer, transmissor de crendices.
FONTES: André Chouraqui, traduzindo e editando Bereshit (GENESIS), Ed. Imago. Seleciona os textos, Paulo Dias.