MATURIDADE E RESPONSABILIDADE – MUDANDO A TRANSIÇÃO
No artigo anterior, descrevemos como as mudanças econômicas e tecnológicas ao longo de décadas transformaram a fase de transição entre a infância e a idade adulta num período prolongado de adolescência, com características indesejáveis e traumáticas que a sociedade – e a igreja – passaram a considerar inevitáveis.
Não podemos negar as condições que geraram tais sintomas e que existem ainda hoje no mundo. Nossos filhos e toda a “garotada” dessa faixa etária da igreja enfrentam influências muito fortes em seu convívio diário. Estão inseridos em um mundo que cultua sensações de prazer e tenta manipular as mentes com o esquema maligno de “oferta-estímulo-desejo-compra-satisfação”.
A mensagem que queremos passar, entretanto, é esta: não precisamos ficar de braços cruzados e aceitar as características da adolescência atual como obrigatórias e inevitáveis. Podemos fazer algo para mudar essa fase na vida daqueles que estão sob nossos cuidados.
Usando o manual do fabricante
Como cristãos, temos uma grande vantagem sobre todos os outros seres humanos: o “manual do fabricante”, a Bíblia. Ela nos dá as chaves para entender a natureza humana e saber o que precisa ser feito, de acordo com o Criador, para corrigir os desvios e aberrações durante as fases de desenvolvimento.
O primeiro ponto de compreensão que adquirimos diz respeito à natureza perversa que contamina a criança desde o nascimento. Enquanto outros pais costumam ver nos filhos “coisinhas lindas, puras e inocentes”, a Bíblia revela que eles já nascem corrompidos, proferindo mentiras, com veneno semelhante ao de serpentes (Sl 58.3-5). Essa é a condição espiritual deles, e nós, pais, precisamos admitir isso a fim de agir corretamente. Nossos filhos nasceram em pecado, com a natureza rebelde de Adão. Precisam ouvir o evangelho a fim de crerem e receberem Jesus como Senhor de sua vida. A melhor prevenção contra os males da adolescência é dar-lhes a vacina contra o mundo: o Reino de Deus, a nova criação, o caminho de Jesus. É imprescindível apresentar Jesus aos nossos filhos desde cedo para que o Pai possa transportá-los do império das trevas para o seu Reino. Assim, eles passarão a ser regidos por outro princípio de vida, não por estes que são do mundo.
Mudança de fase como processo de maturidade
A criança cresce e passa por mudanças desde o nascimento. Na medida em que uma pessoa cresce, ela se torna progressivamente mais completa. Assim, uma criança de 5 anos é diferente em sua maneira de pensar e agir de um jovem de 15 anos ou de um adulto de 30. Se, durante o crescimento, as crianças encontrarem referências estáveis na família, elas amadurecerão naturalmente sem se tornarem revoltadas ou doentes.
Deus não só planejou momentos distintos de desenvolvimento, mas atribuiu capacidades e tarefas específicas a cada um deles. É na puberdade que a criança adquire a capacidade de reprodução planejada por Deus como parte essencial da missão original que deu ao homem (Gn 1.28). Portanto, é uma fase legítima que contém intensas mudanças e crises importantes. O que precisamos fazer é entender como transformar essa fase num período construtivo para conduzir a criança a ser homem ou mulher responsável e a adquirir a identidade que Deus lhes preparou.
Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou (Gn 1.27).
Se as crianças crescerem ouvindo sobre o projeto de Deus para a masculinidade e para a feminilidade, creio que não serão dominadas pelo sexualismo pós-moderno. A sociedade reduziu o gênero a sexo. Deus não pensa assim. Há muito mais em ser homem e mulher do que poder ter relações sexuais. Cada homem foi planejado para ser cabeça, provedor, agente do amor e do cuidado de Deus na Terra. Cada mulher foi planejada para ser ajudadora, realizadora, agente da sensibilidade e do zelo de Deus.
Nossos filhos precisam saber que a sexualidade deles faz parte de um projeto eterno, maior, espiritual; o projeto que Deus tem de ter na Terra uma grande família de filhos semelhantes a Jesus. A puberdade deve ser esperada como um importante passo em direção a integrar-se no supremo propósito. Pais, em nome de Jesus, não ajam como se seus filhos tivessem de ser hormonais, carnais; creiam: eles podem ser profundos, espirituais!
O problema é que significados errados são atribuídos às mudanças físicas. O garoto deveria conceber o desenvolvimento da massa muscular como uma capacidade para o trabalho. Por causa da cultura, entretanto, ele aspira ser um “símbolo sexual”. A menina deveria compreender o crescimento dos seios como uma preparação para a maternidade, mas é induzida a desejar seios grandes e “atraentes”. Todas as mudanças planejadas por Deus têm um sentido espiritual e eterno, mas, no mundo, adquirem um sentido carnal e banal.
Nesse processo de crescimento como homem e mulher, é importante associar puberdade à mudança de fase. Os pais devem ensinar aos filhos sobre as mudanças, e, quando estas ocorrerem, devem ser celebradas com alegria. A menarca deve ser recebida com festa de maneira que a menina saiba que está passando a ser mulher. No caso dos meninos, os pais podem marcar um momento para celebrar essa passagem. Pode ser o aniversário de 13 anos, por exemplo.
Juntamente com essa celebração, que associa as mudanças a algo espiritual (família), os filhos devem passar a ter novos desafios e novas responsabilidades. Isso ajudará a promover situações que desenvolvam habilidades, revelem o caráter e firmem a identidade. Para uma ajuda prática a esse respeito, recomendo a leitura do livro Bar Barakah de Craig Hill (Bless Gráfica e Editora). Também sugiro a leitura de bons livros sobre hombridade e feminilidade no propósito de Deus.
Achando a identidade
A puberdade implica novas capacidades e consequentes responsabilidades. O mundo ressalta essas capacidades e atribui-lhes um significado conveniente aos seus interesses. Foi Deus, porém, que teceu nossos filhos e lhes deu capacidades e características específicas. Cabe à família e à igreja ajudá-los a descobrir cada aspecto de sua identidade em Deus, que é o único que tem o segredo do seu “funcionamento”. Eles não precisam conhecer o mundo. Também não precisam explorar seus instintos e dar vazão à sua vontade para saber quem são. Precisam conhecer Deus à medida que crescem no ambiente de uma família na qual Jesus reina.
A puberdade não precisa fazer adoecer. Ela pode ser um momento de descobertas maravilhosas sobre o propósito eterno e pessoal de Deus para cada um. Se conduzirmos nossos jovens a Jesus, eles não precisarão de dez anos de adolescência para descobrir quem são. Também não desperdiçarão o melhor de suas forças, entregando-se às paixões da mocidade. Serão fortes, vencerão o maligno e guardarão a Palavra (1 Jo 2.14).
A identidade tem elementos intrínsecos à natureza de cada um e outros que são adquiridos. Dar responsabilidades é um excelente instrumento de formação de identidade, de caráter. Deus age assim. Daniel e seus três amigos eram jovens, mas nem por isso influenciáveis. Diante da pressão do rei Nabucodonosor para que se misturassem com os costumes babilônicos, permaneceram fiéis ao Senhor e não se contaminaram. Em nossos dias, quando os jovens se enchem de atitudes e comportamentos mundanos, dizemos: “São apenas adolescentes!”
Deus colocou os amigos de Daniel numa situação de grande risco. Fez com que passassem por enormes pressões. Foi assim que Deus tornou aqueles moços capazes de assumirem a responsabilidade de glorificá-lo no meio da Babilônia.
Com os discípulos, alguns dos quais provavelmente eram jovens, não foi diferente. Jesus os selecionou, instruiu-os com sua Palavra e os influenciou com sua vida. Desafiando-os, dando-lhes exemplo e capacitando-os, Jesus os submeteu a tarefas difíceis e situações complicadas. Foi assim que Jesus formou 12 homens que se tornaram 12 pedras fundamentais da Igreja.
Por que, ao invés de subestimarmos nossos jovens, oferecendo-lhes um “evangelho gospel”, adaptado à adolescência, não os tratamos como homens e mulheres capazes de suportar pressões, vencer o mundo e ser transformados pelo evangelho da cruz de Cristo? Nossos filhos não merecem que os privemos daquilo que pode realmente fazê-los felizes. Nosso dever é expô-los a Jesus, às coisas lá do alto e não daqui do mundo.
Nossos filhos são aguardados por Deus como servos fiéis para serem enviados às nações como embaixadores do Reino. Não podemos ter outra expectativa, não podemos esperar que sejam apenas jovens comuns. Deus quer jovens capazes de transtornar o mundo e não de adaptar-se a ele.
Rebelião é normal?
A rebelião é considerada uma característica da adolescência. Isso é tão forte e perigoso que norteia o comportamento da justiça em relação ao menor infrator. Quem é menor de idade comete crimes tão terríveis quanto os maiores, mas a sociedade dá mais liberdade sem exigir responsabilidade correspondente. Essa é uma das consequências da mentalidade sobre a fase adolescente impregnada na cultura ocidental.
Ensina-se a liberdade para fazer o que quiserem, mas não se ensina o peso das consequências do que fazem. Isso tem produzido uma juventude que se apega apenas a si mesma. Meninos e meninas, sozinhos em seus instintos, vontades e conflitos, tornam-se rebeldes, incapazes de reconhecer o valor da obediência e da submissão. No mundo da adolescência, rebelar-se é algo normal e, às vezes, até incentivado. Mas o que é rebelião? De onde ela vem? Do coração de cada descendente de Adão.
Todos nascem rebeldes e crescem assim até que o encontro com Jesus e o confronto com o evangelho do Reino os levem ao arrependimento. A rebeldia não é uma característica normal. É pecado, afasta de Deus. Cabe aos pais levarem os filhos a Jesus para que se arrependam e deixem de ser rebeldes. Se os pais não se omitirem dessa responsabilidade, seus filhos serão convertidos e, portanto, libertos da rebeldia.
A autoridade dos pais é a dádiva do amor de Deus aos filhos. Filhos rebeldes precisam de pais submissos e cheios do Espírito que lhes sejam referência de Deus. Pais que amam, ensinam e corrigem livrarão os filhos da rebelião. Pais ausentes geram filhos abandonados a si mesmos e, consequentemente, entregues à própria natureza rebelde com todas suas potencialidades. Pais presentes, mas que se omitem, geram a mesma realidade.
É tempo de os pais converterem o coração a seus filhos para que estes convertam o coração a seus pais. Pais de corações convertidos aos filhos são pais que direcionam a vida para conduzir os filhos ao Senhor. Filhos de coração convertido aos pais são filhos que andam na direção que os pais apontam. O poder de Deus está disponível para os pais; encontra-se na Palavra, na oração e na comunhão dos santos.
Está na hora de rejeitarmos terminantemente as características negativas da adolescência assim como rejeitamos tudo o que é mundano, que se opõe ao plano original de Deus. Pais e pastores, despertem para essa necessidade antes que seja tarde, antes que a adolescência faça adoecer todas as nossas crianças. Nossas famílias e igrejas precisam prover um ambiente cheio de Deus, não cheio de programas. O evangelho adaptado perde seu poder. A cruz não precisa ser pintada de muitas cores para chamar a atenção de nossos filhos. Tomemos, como Paulo, a decisão de pregar a Jesus Cristo, e este crucificado, e veremos nossos filhos rendidos ao Pai. Não queremos adolescentes nem “aborrecentes”; queremos apenas crentes, discípulos de Jesus. Portanto, vamos e geremos nossos filhos para Deus, façamos discípulos!
*Texto retirado da Revista Impacto – Ano 12 – Edição 65.
por Tony Felici